Opinião — Formação de empreendedores: como é e como deveria ser

No Brasil empresas são abertas e geridas por pessoas que não passaram pela educação formal em criação ou gestão de negócios
No Brasil, duas milhões de empresas são formalizadas todos os anos. Em um sistema educacional que prioriza processos seletivos para empregos tradicionais e concursos, o número impressiona. Mesmo que todos os 800 mil alunos de administração abrissem um negócio, a conta não fecha. Ou seja, empresas são abertas e geridas por pessoas que não passaram pela educação formal em criação ou gestão de negócios. Pessoas como minha irmã, fisioterapeuta, ou minha esposa, formada em turismo e que atualmente empreende na área de pesquisa de mercado.
O mesmo é verdade para engenheiros, advogados, médicos, educadores, contadores e demais profissionais que não tiveram a oportunidade de ingressar ou concluir uma faculdade. Não há, dentro ou fora das instituições de ensino, cultura que promova o desenvolvimento vocacional estruturado de empreendedores.
4,0 milhões de alunos querem ter o próprio negócio
 
Estudo realizado pelo Sebrae e Endeavor indica que 60% dos alunos de graduação - ou quatro milhões de pessoas - querem ter um negócio próprio. Um caminho natural seria que obtivessem apoio do centro de carreiras ou de empregabilidade de suas instituições. No entanto, mesmo que a escola possua um, é provável que as práticas mais comuns sejam a publicação de vagas de emprego e a feira de carreiras. Ou seja, empreendedorismo como opção de carreira é deixado de lado até pela área que, com relativamente pouco esforço, mais poderia influenciar alunos.
Por ser um campo acadêmico jovem, o empreendedorismo ainda está sendo absorvido pelas instituições e seus profissionais. Alguns ainda veem como a disciplina que briga por espaço na já apertada grade curricular. Nesse caso, o papel da sua promoção fica a cargo dos poucos educadores mais antenados às demandas do mercado. Esses, por sua vez, se esforçam para inserir o assunto na agenda da instituição, seja por meio de cursos, palestras ou da forma que conseguirem.
Nas escolas onde o assunto já faz parte do vocabulário, duas abordagens concorrem entre si. Uma delas é a da comodidade. Ao disponibilizar uma disciplina sobre o assunto, algumas instituições assumem que estão praticando o que há de mais avançado no mercado. Outra abordagem é a do quanto mais, melhor. Nesse caso, mais raro, a instituição oferece disciplinas derivadas, como empreendedorismo social, tecnológico, intraempreendedorismo, gestão da pequena e média empresa, criação de produtos e serviços, entre outras.
Ainda mais incomuns são instituições que ultrapassam os limites da faculdade de administração e oferecem a estudantes de outras áreas acesso à essas disciplinas. No caso da PUC-Rio, milhares de alunos de diferentes formações participam de cursos transversais organizados pelo Núcleo de Pesquisa e Ensino em Empreendedorismo.
Em São Paulo, mais familiarizado com as iniciativas do Insper – onde atuo há 10 anos –, posso afirmar que a instituição desenvolveu um zeitgeist (clima e cultura) que sustenta e promove o tema. Um exemplo disso é a faculdade de engenharia que a escola intraempreendeu recentemente. Alunos de administração, economia e engenharia já desenvolvem algumas atividades em conjunto.
Na região Sul do Brasil, a Universidade do Sul de Santa Catarina inova ao desenvolver um programa de pós graduação em empreendedorismo e novos negócios. Nele, capacitará ex-alunos e empresários da região para atuarem como mentores na escola.
Thiago de Carvalho
Fonte: administradores.com

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