Quais são as mudanças
necessárias para o País?
Flexibilizar
sem precarizar as relações de trabalho. Essa é a ideia que se propõe para a
reforma no Brasil
Até a
segunda quinzena de dezembro, o Governo Federal deve encaminhar o projeto final
da reforma trabalhista ao Congresso Nacional. Assim como a reforma
previdenciária, as especulações são muitas e os caminhos para as mudanças
necessárias para o País estão sendo discutidos. Mas um rumo para a reforma é
flexibilizar as leis sem precarizar as relações de trabalho.
Ontem, o
ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, adiantou, em entrevista ao O Globo, que
estuda a criação de contrato de trabalho por número de horas - uma das demandas
do setor empresarial.
O que
ainda pleiteiam os patrões é a valorização das negociações coletivas de
trabalho e da regulamentação da terceirização, de acordo com proposta da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregue a Michel Temer (PMDB), em
abril deste ano, quando ainda era vice-presidente.
Adhara
Camilo, membro da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do
Brasil, secção Ceará (OAB-CE), afirma que há um lado positivo na terceirização
por fortalecer as negociações coletivas.
Também
porque seria uma maneira de os empresários diminuírem seus custos, aos mesmo
tempo em que teria a importância de gerar novos postos de trabalho diante de um
Brasil com taxa de desemprego de 11,3%. “Na reforma trabalhista tem que se ter
cuidado em pontuar o que a Constituição Federal e a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) permitem flexibilizar e deixar isso de forma listada”, diz.
Mas
quando se toca no ponto de terceirizar atividades fins, aquelas que tenham a
ver com o exercício principal de uma empresa, Humberto Lopes Cavalcante, advogado
especialista em direito do trabalho, é contra.
Hoje,
apenas as atividades meio podem ser terceirizadas. “Pode ser que a
terceirização possa ser benéfica para a economia, mas para o trabalhador não.
Nesse caso, o advogado avalia que o ponto de equilíbrio viria de uma
deliberação sindical envolvendo sindicatos. “A flexibilização das leis
trabalhistas penso que seja oportuna, portanto que não precarizem as relações
de trabalho”, diz.
Em
relação ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em que se discute
dificultar o saque do benefício, Humberto propõe outra visão. “Da forma como se
quer mexer, no sentido de criar dificuldade de saques para demissão sem justa
causa, não seria um ponto de equilíbrio”. A proposta seria corrigir a
remuneração do FGTS, que hoje rende abaixo da inflação.
Para ele,
a reforma trabalhista seria oportuna no caso de a lei se adequar às novas
tecnologias, às novas relações de trabalho, como para quem trabalha de casa, o
cada vez mais comum homeoffice.
Alinhamento
No setor
empresarial, há o alinhamento em relação às questões trabalhistas. Maurício
Filizola, 1º vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), afirma que os empresários querem
uma reforma que torne a CLT menos burocrática e mais enxuta. A consequência,
ele diz, seria setores mais competitivos, custos de produção menores, com maior
geração e manutenção do emprego.
Para
Filizola, o número de normas e modificações que foram feitas tornaram a interpretação
da legislação difícil e traz insegurança jurídica.
Um dos
pontos principais para o empresariado é que os acordos fechados em negociações
coletivas sejam mantidos, como definição de uma certa carga horária e de
férias. “Na prática a empresa é punida e a relação com os empregados não fica
harmônica”, diz. As demandas dos empresários vêm de legislações como a
norte-americana. Eles esperam que a reforma seja similar, mas observando as
particularidades do Brasil.
Beatriz
Cavalcante, O
POVO
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