Sua empresa está pronta para a terceira idade?


Eles vão ao shopping, viajam, praticam exercícios, mudam de marca, e dispensam gentilezas que os façam se sentir debilitados. Eles também dispõem de tempo e dinheiro para se dedicar às compras.
Mesmo com todas essas características, os consumidores da terceira idade ainda não despertam o interesse do mercado, pouco familiarizado com estratégias específicas para atrair esse público-alvo.No Brasil, a chamada terceira idade é formada por 22,3 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, dos quais 5,4 milhões ainda estão no mercado de trabalho, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Outro dado, do instituto Datafolha, aponta que 80% deles possuem algum tipo de renda, e que 72% costumam sair de casa diariamente. De acordo com estimativa do instituto Data Popular, com base em informações do IBGE, a renda dos idosos brasileiros é superior a R$ 450 bilhões anuais.
Hoje, a expectativa de vida do brasileiro é de 75 anos, e muitas pesquisas mostram que além de estar mais planejado em relação às compras, o idoso de todas as classes possui maior poder de compra.
SEM REGALIAS
No entanto, na opinião de Gilberto Wiesel, consultor empresarial, as empresas ainda não estão em sintonia com a demanda gerada pelo envelhecimento da população.Ele cita duas situações: empresários que simplesmente, ignoram essa fatia da população, e empresários que romantizam essa faixa etária, criando termos como "melhor idade", ou construindo espaços preferenciais dentro de suas lojas.
Pessoas entre 60 e 75 anos fazem parte da terceira idade, mas não associam isso à velhice, de acordo com Wiesel. E fazem parte da fatia menos atendida desse universo.
"Por isso, muitos deles dispensam regalias como caixas preferenciais, que na maioria das vezes, vemos sendo usados por jovens, ou idosos acima de 80 anos", diz.
Wiesel afirma que, nos Estados Unidos, boa parte do espaço comercial de televisão é dedicado aos produtos para terceira idade, que vão desde planos de saúde até artigos esportivos. Já no Brasil, ainda não há essa preocupação. Enquanto o resto do mundo está investindo em pesquisas para criar produtos e serviços específicos para o idoso, Wiesel arrisca dizer que corremos o risco de mais tarde ter de importar técnicas e tecnologias para lidar com esse nicho.
Outra pesquisa realizada pelo Ipsos Connect aponta que os brasileiros acima de 60 anos querem aprimorar presença na internet. No país, o acesso à internet por pessoas acima de 60 anos cresceu 15% entre os anos de 2000 e 2015.
“Pode parecer pouco, mas as empresas ainda estão começando a entender o público de seniores", diz Diego Oliveira, diretor da Ipsos Connect. "Este segmento está em evidencia devido à sua importância e ao seu potencial de consumo, mas ainda há muitas oportunidades não trabalhadas”.
QUEM APOSTOU
Com o mercado pouco atento a esse movimento, as empresas que se dedicam ao bem-estar dos idosos saem na frente.
Ao perceber que as academias não estavam preparadas para tratar as lesões de seus pacientes mais velhos, o ortopedista Benjamin Apter decidiu criar a B-Active, uma rede de academias terapêuticas que oferece musculação, pilates e fisioterapia para o público maduro.
Cerca de 80% dos clientes tem idade superior a 60 anos, e 80% dos professores são fisioterapeutas que acompanham os alunos em atividades para tratar lesões musculares e nas articulações. O pacote com duas aulas semanais sai por cerca de R$ 350 por mês. A B-Active fechou 2015 com um faturamento de R$ 6 milhões.
Desde 2009, parte dos lançamentos da construtora Tecnisa tem sido entregues com portas maiores, barras de apoio, escadas de alvenaria, rampas, pisos de borracha, eliminou desníveis e degraus em banheiros. Com essas soluções, os consumidores na casa dos 60 anos já representam 15% dos clientes da empresa.
Há 16 anos, a agente de viagens, Thereza Ramos Queda, 70 anos, percebeu que viajar não era um lazer ao alcance de todos que passam dos 60 anos. A complexidade de planejar o roteiro, falta de familiaridade com outros idiomas, dificuldade de locomoção, e ausência de companhia eram apenas alguns dos obstáculos. 
De maneira informal, Thereza costumava organizar pequenos grupos para ajudar asilos e orfanatos, em Campos do Jordão. Pelo boca a boca, ela passou a receber pedidos de orçamentos de viagens para outros destinos. Em pouco tempo, a demanda ficou fora de controle, e ela propôs a filha, Cínthia, uma sociedade para abrir a agência de turismo Cinthe-Tur, no Tatuapé, em São Paulo, especializada em terceira idade.
E em todos os pacotes há uma guia disponível em tempo integral para auxiliá-los, e os idosos representam 80% dos clientes da agência.
 “Eles querem atenção, e usam a preferência em filas, mas para outras coisas não querem dizer que são da terceira idade”, diz.
De acordo com a Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagens), a terceira idade representa 15% da carteira ativa das agência de viagens – pessoas que viajam com frequência. Entre os destinos mais procurados estão Buenos Aires (Argentina), Lisboa (Portugal), Serra Gaúcha (RS), Natal (RN) e Recife (PE)

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